quinta-feira, 8 de novembro de 2007

*Trabalho sobre sensacionalismo - Se liga Bocão* °Ética°

A veiculação de informações torna-se cada vez mais rápida e fácil, com isso, para se ter sucesso na mídia é preciso explorar aquilo que não apenas chama, mas também prende a atenção do espectador. Por esse motivo, não raro vemos muitos meios que se utilizam do sensacionalismo – forma espalhafatosa e exagerada de divulgar uma matéria ou acontecimento; exploração do que é sensacional, de escândalos, atitudes chocantes -, com o objetivo de causar impacto na sensibilidade alheia, atrair para si os olhares curiosos do público. Dessa forma, muitas vezes desrespeita-se a dor de outrem, foge-se do conceito do que seria moral ou ético, com o único intuito de permanecer bem na mídia.
Julgando, apelando para lados emocionais e fazendo até mesmo chacotas, este tipo de imprensa consegue, além de manipular opiniões, arrastar massas para incrementar ainda mais seu ibope. Ou seja, ela se baseia na máxima que diz que “os fins justificam os meios”, onde o fim (audiência) justifica todos os métodos imorais de que ela faz uso. Isso acontece em diversos programas hoje veiculados por rádio e principalmente televisão, que é o caso do “Se Liga Bocão”, programa popular que mostra crimes e matérias exageradas.
Os temas freqüentemente abordados nesse programa são sobre fatos ocorridos nos arredores e dentro de Salvador - que vão desde estupros a roubos e assassinatos -, questões sociais, como a homossexualidade, críticas ao governo, projetos de ajuda a pessoas carentes, brigas e escândalos. Para se tornar de fácil entendimento, a linguagem que é utilizada é de natureza informal, falada pelo “povão”, que é o público alvo em questão.
Quando se trata de algum criminoso ou homossexual, o repórter utiliza termos bastante vulgares e preconceituosos, realmente no intuito de ridicularizar o entrevistado, seja mostrando aspectos físicos que este tenha em destaque e fazendo piadas, ou dirigindo-se a ele com expressões pejorativas. O apresentador faz uma espécie de introdução ao que vai ser exibido sempre em estilo teatral de revolta e indignação perante a cena que irá vir, além de já deixar explícita a sua opinião acerca do acusado, julgando-o sem respaldos, apenas baseando-se na condição social do mesmo, estratégia comum em uma imprensa sensacionalista.
De certo modo, todo o programa é antiético e até ‘fácil’ de ser identificado como tal. Vimos desde apelos com pessoas desmaiando de maneira proposital até certa “contaminação” na parte de ajuda social. Até nesse ponto, onde a real solidariedade deveria ser pregada, a equipe do programa não perde oportunidade e faz questão de mostrar a “vida miserável” da pessoa sorteada, apontando com demasia os enormes problemas e as possíveis soluções que ela está apresentando. Maneiras de vangloriar-se e ganhar o crédito e a adesão popular.
É comum também o uso de cenas desnecessárias, inadequadas para uma matéria jornalística, como os seios de travestis e os corpos de presos maltratados pelos policiais, quando na verdade era apenas necessário que estes fossem mostrados dando o parecer dos crimes que cometeram.
Assim como muitos outros programas, a grande arma usada para chamar a atenção do público é a violência. Comumente aparecem casos onde ela é destaque nas reportagens e gera uma seqüência de discussões que muitas vezes fogem do tema central.
Há exemplos como o de Zoinho, que agiu violentamente contra a vida de cinco pessoas e as matou – ele é desnecessariamente chamado de feio; os dois homossexuais (Nina e Guiga) que pegaram dinheiro a força de clientes porque estes se recusarem a pagar pelos seus serviços – o repórter zomba do medo que um deles sente de ir para a detenção; o de um pai que forçava a filha a manter relações sexuais com ele desde os oito anos de idade. Nesse último caso, o apresentador chega a pedir que o rosto do indivíduo passe novamente na tela, pois ele vai sofrer na cadeia com as leis. Entende-se que ele esteja falando das leis criadas pelos próprios prisioneiros, que costumam, por exemplo, estuprar aqueles que foram presos por terem cometido esse tipo de crime.
A violência representa toda forma de uso da força física ou psíquica para obrigar alguém a agir contrariamente à sua natureza. Como o ser humano é um ser racional, não pode ser submetido a esse tipo de situação, onde ele é tratado como objeto, agindo não por vontade própria ou pelo exercício da sua liberdade, mas forçado por outros. A ética vai então proibir moralmente a violência para assim garantir a nossa condição de seres humanos racionais e agentes livres.
Mas a ética não vai apenas condenar atos violentos, mas também a má conduta, a desobediência às normas, a falta de moral e de princípios, que são características marcantes do “Se liga Bocão”, que retrata bem a face da decadência dos veículos informativos do nosso país, apesar de ainda haver aqueles que visam à boa e real informação.

3 comentários:

Paulo Ricardo disse...

Anne, o presente artigo aponta detalhadamente o perfil e as estratégias anti-éticas do Programa Se liga Bocão para obter audiência. De fato é muito sensacionalista e, concordo contigo quanto a exploração dos problemas alheios. Parabéns!!
Também sou estudante de jornalismo, em Barreiras, no Oeste da Bahia.
Forte abraço,
Paulo Ricardo (pauloricardo20g@hotmail.com)

Unknown disse...

(Oscar Alho)
Parabéns Anne pela coluna,retratou bem sobre o sensacionismo do programa Se liga Bocão.Mudando de assunto tem algo para fazer sabado a noite ??
Poxa não sou o "Vocalista do RPM",mais dou um bom caldo...beijo me liga !!!

Nill disse...

Olhá só, não sou formado em nada, muito menos preconceituoso, pelo contrário, tenho conceitos formados...
Gostei muito de saber que existem pessoas que pensam da mesma forma, acho que todo o sensacionalismo dele acaba acarretanto hipocrisia para sua propria carreira.
Sou morador de salvador e não aguento mais ver tanta manipulação atraves das suas reportagem, ele fala tanto em mudanças, mas não tem a coragem de admitir (e que nós não venhamos ficar esperando isso dele) a sua estratégia de manipulação das massas para levanta a sua audiência.
Ajuda alí, faz pequenos projetos aqui, mas nada na verdade pra ajudar o povo e sim atrair a atenção.
Dinehiro no bolso, lixo nas mentes do povo
esse é o dilema dele